CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil reforçam o elo entre ciência, saúde e políticas públicas em Minas Gerais
13/10/2025
CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil reforçam o elo entre ciência, saúde e políticas públicas em Minas Gerais
13/10/2025
Capacitação em Montes Claros e audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) consolidaram o papel dos projetos na integração entre pesquisa, serviços e políticas públicas.
As atividades dos projetos CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil, ambos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o segundo em parceria com Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Federal Bahia (UFBA), configuram um avanço importante na integração entre pesquisa, formação profissional e políticas públicas voltadas à doença de Chagas no Brasil. Sob a liderança da Dra. Andréa Silvestre, pesquisadora do INI/Fiocruz e investigadora principal dos projetos, a agenda combinou capacitação técnica e mobilização política, reforçando o compromisso institucional com o acesso a diagnóstico, tratamento e cuidado das pessoas acometidas por esta doença negligenciada.
CUIDA Chagas em Montes Claros: capacitação para fortalecer equipes locais
No dia 8 de outubro, o município de Montes Claros sediou uma capacitação em parceria com o CUIDA Chagas. O encontro reuniu a mais de 40 profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS), Saúde da Família e Programa Mais Médicos. A ação foi coordenada pela Thallyta Maria Vieira, investigadora principal do estudo de Validação do projeto CUIDA Chagas no centro de Montes Claros, e ministrada pela Dra. Andréa Silvestre e pelo prof. Alejandro Luquetti, gerente do estudo no Brasil.
Tal como relatou a Dra. Andréa Silvestre, a iniciativa surgiu a partir do desenvolvimento do estudo de validação do CUIDA Chagas que apontou a necessidade de fortalecer a capacidade das equipes locais na oferta de tratamento, até então apenas oferecido pelo Hospital Universitário Clemente Faria da UNIMONTES, centro do terceiro nível de atenção.

Comenta Thallyta Maria Veira, pesquisadora local:
“Os médicos relataram enfrentar a ansiedade dos pacientes com diagnóstico positivo, acesso limitado a alguns exames e sua própria insegurança no manejo clínico. Por isso, identificamos a necessidade de estabelecer uma linha de cuidado clara para pacientes e profissionais. Ações como pactuação de fluxos, capacitações de profissionais, ações de educação em saúde e medidas para facilitar o acesso de exames complementares fazem parte desta mudança, na qual o projeto CUIDA Chagas é um grande parceiro da Secretaria de Saúde de Montes Claros e da UNIMONTES.”
Thallyta também espera que, apesar dos atuais desafios, esta proposta possa consolidar o estabelecimento de uma linha de cuidado ampla, capaz de atender simultaneamente as duas pontas, os profissionais de saúde e a população remota:
“Para os usuários, essa linha de cuidado amplia o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, reduz custos com transporte e deslocamento, aumenta a adesão ao tratamento e contribui para reduzir o medo e o estigma associados à doença. Para as equipes da APS, a iniciativa fortalece a autonomia e a capacidade de resolução local, melhora a comunicação com os serviços de referência e promove a segurança clínica no manejo dos casos.”
Da capacitação também participou a sra. Maria Aparecida de Souza Rocha, presidenta da Associação de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas de Montes Claros. A liderança fez uma fala inspiradora sobre a importância do projeto CUIDA Chagas na formação de profissionais de saúde sensíveis e capacitados para atender às necessidades das pessoas acometidas.
Equipe local do estudo de validação em Montes Claros com Andréa Silvestre (esq) e Maria Aparecida, liderança de Montes Claros (dir).
Neste contexto de importantes avanços na garantia do direito à saúde das pessoas acometidas por doença de Chagas em Montes Claros, a capacitação contribuiu na consolidação de uma proposta robusta com o objetivo de integrar pesquisa, serviços de saúde e comunidade na busca por um cuidado mais acessível e sustentável no norte de Minas.
CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil pautando o debate na Assembleia Legislativa de MG
No dia seguinte, 9 de outubro, o foco se deslocou para Belo Horizonte, onde a ALMG realizou uma audiência pública dedicada à situação atual da doença de Chagas no norte do estado. O encontro, promovido pela Comissão de Saúde, contou com a participação de pesquisadores dos projetos, Dra. Andréa Silvestre, Dra. Eliana Amorim (UFBA) e Dr. Alberto Novaes (UFC), além de parlamentares, gestores, lideranças comunitárias e representantes de municípios parceiros.

Pesquisadores dos projetos com gestores, profissionais da saúde e liderança de Espinosa
Durante a audiência, foram apresentados e discutidos os resultados obtidos pelos projetos CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil, desenvolvidos nos municípios de Janaúba, Espinosa e Porteirinha. Esses trabalhos vêm contribuindo para tornar visível a situação de endemicidade da doença de Chagas nesses territórios e em toda a região do norte de Minas.
Segundo a Dra. Andréa Silvestre, os dados dos projetos são muito oportunos para dar visibilidade à realidade epidemiológica da região. Ela destacou que o aumento expressivo de diagnósticos positivos não indica um recrudescimento da doença, mas sim a identificação de casos historicamente silenciados, agora revelados por meio das estratégias de busca ativa, triagem e protocolos dos estudos de implementação em parceria com as gestões locais. Essas ações, segundo a pesquisadora, fortalecem o papel do SUS na detecção e cuidado das pessoas acometidas pela doença de Chagas.
A Dra. Eliana Amorim, reforçou essa perspectiva ao destacar a relevância das pesquisas de implementação como ferramentas para subsidiar a formulação de políticas públicas mais efetivas. Para ela, a aproximação entre produção científica, gestão, serviços e comunidade é essencial para transformar evidências em ação concreta.
“Evidências cientificas são fundamentais na formulação de políticas públicas. As pesquisas dos projetos IntegraChagas Brasil e CUIDA Chagas trazem informações reveladoras e inéditas sobre a magnitude da doença de Chagas no norte de Minas Gerais. ‘Quem são as pessoas que estão adoecidas? Onde elas se encontram? Quais são os principais desafios nos serviços de saúde? Quais estratégias são necessárias para melhorar o acesso a diagnóstico, tratamento e cuidado?’ Todas essas são questões abordadas pelos estudos. E o nosso trabalho se faz com o maior engajamento possível: estabelecemos parcerias com gestores em diferentes níveis, estamos junto aos profissionais de saúde na ponta e dialogamos e apoiamos a organização da sociedade civil. Nesse sentido, o nosso papel como pesquisadores não é isolado, mas comprometido com a mudança social e a possibilidade de oferecer ferramentas/conhecimentos estratégicos para a formulação e execução de políticas públicas que possam melhorar a vida das pessoas acometidas pela doença de Chagas no país.”

De acordo com o Dr. Novaes, o processo de ampliar o direito à saúde das pessoas acometidas pela doença de Chagas na região norte de Minas apresenta inúmeros desafios. Neste contexto, segundo o pesquisador, para além da ampliação do acesso a diagnóstico e tratamento da doença para um cuidado integral, as respostas institucionais devem ser orientadas pelas necessidades territoriais expressas por pessoas, suas famílias e comunidades, e abordadas de forma intersetorial e contundente:
“A região norte de Minas é sabidamente um espaço endêmico historicamente, com um grande número de pessoas acometidas pela doença de Chagas. Certamente uma das questões prioritárias é fazer com que as tecnologias de saúde para cuidar das pessoas com doença de Chagas cheguem àquelas que, de fato, necessitam. O setor saúde tem uma responsabilidade muito grande na hora de garantir esse acesso. Porém, como discutimos aqui na Assembleia Legislativa de Minas Gerais hoje, para além do setor saúde, são necessárias políticas intersetoriais concomitantes: desenvolvimento humano, transferência de renda, assistência e seguridade social, acesso à moradia, saneamento e água. Não podemos nos esquecer da questão ambiental, com os fenômenos de mudança climática e o impacto de projetos hídricos, desmatamento, agricultura extensiva, que modificam o habitat natural dos triatomíneos e fazem com que eles se aproximem de áreas povoadas. Então, obviamente, a tarefa do setor saúde é fundamental, mas sempre procurando essas interfaces e corresponsabilidade intersetorial”.
Andréa Silvestre com Eliana Amorim (esq) e com Alberto Novaes (dir).
Com as atividades em Minas Gerais, os projetos CUIDA Chagas e IntegraChagas Brasil reafirmam seu papel como iniciativas de pesquisa engajada, capaz de unir ciência, inovação, gestão, serviços e participação social. Ao fortalecer a capacidade das equipes locais e estimular o diálogo político, os projetos contribuem aproximando a pesquisa às necessidades reais do SUS e construindo caminhos para que o cuidado com a doença de Chagas seja um direito efetivo e acessível de todas as pessoas acometidas.
Acesse à audiência na íntegra pelo canal de Youtube da ALMG:
Saiba mais sobre os projetos:
https://integrachagasbrasil.org/
Instagram: @Cuidachagas – @IntegrachagasBrasil
Redação: Valentina Carranza




